sexta-feira, 1 de julho de 2016

O TK2000

Recentemente meu tio Carlão (José Carlos Mariano) me agraciou com um presente ao qual sou-lhe grato eternamente; um TK2000.  Na década de 80, os computadores pessoais eram peças raras, limitados a alguns poucos usuários, sendo sinônimo de status a quem tinha o domínio dessas máquinas. Meu tio havia comprado este computador naquela época e foi um "zumzumzum" na família toda. Não havia quem não comentasse o fato. Eu ficava imaginando como seria operar este maravilhoso e enigmático aparelho.
     Os anos se passaram e durante este tempo, vi a informática desenvolver-se de forma assombrosa. Nos anos 80 os computadores de mesa reinavam absolutos e foi assim até o final da primeira década do século 21. Lembro-me que em 1992 no curso de informática que fiz na Microcamp, o professor daquela época, o Sr. Athos Abritta já anunciava as seguintes palavras: "Não se assustem quando verem os computadores do tamanho de relógios de pulso..."; A sala de aula, atônita, ouvia atentamente esta "profecia". Não demorou muito para que os computadores ficassem até menores que relógios de pulso.
     Atualmente usamos computadores o tempo todo e nem nos damos conta. O aparelho celular é um dispositivo computacional completo, com sistema operacional, dispositivo de entrada, saída, acesso à internet e tudo que se pode imaginar e querer de um computador. Na verdade, atualmente desperdiçamos a capacidade computacional dos aparelhos fazendo, em algumas situações, mal uso de todo este poder e capacidade de armazenamento.
     Na época do TK2000, criar um programa era uma verdadeira arte. O hardware era limitado, portanto a criação dos programas tinha de ser feita cuidadosamente para que não houvesse desperdício da pequena memória destes aparelhos e sempre atento para que as rotinas na programação fossem eficientes tirando proveito de toda a capacidade do aparelho. E foi por este exato motivo que sempre quis ter um aparelho deste. Programar com um hardware extremamente limitado e aplicar meus conhecimentos de Tecnólogo em Análise de Sistemas neste computador é algo desafiador. Mas amo desafios e sempre quero superá-los. Na faculdade somos provocados a construirmos programas que fazem o uso eficiente dos processadores e memória através da aplicação dos conceitos da Estrutura de Dados. Mas é algo conceitual que só se estuda para se ter uma base do que é isso, e o motivo é que o hardware atual é infinitamente poderoso então, certas rotinas ineficientes e o exagerado uso de memória acabam por ser tranquilamente tratados pela imensa capacidade computacional dos dispositivos atuais. Então, para não perder de vista o conceito da estrutura de dados e as boas práticas na programação de algoritmos, este TK2000, doado pelo meu Tio Carlão, veio em boa hora para agregar valor e conhecimento. Não se compara o BASIC com C! Sei disso, mas a beleza nisso tudo está na real capacidade do Analista de Sistemas em ser capaz de programar em qualquer plataforma, desde as mais antigas até as mais modernas.  Então, o desafio foi aceito! Restauro o aparelho e agrego conhecimento em eletrônica, preservo o fator histórico (que para mim é muito importante) e ainda por cima exercito meus algoritmos e aplicações matemáticas que construo. Enfim, me sinto muito feliz por estar com este formidável computador antigo! Aqui vão algumas fotos do TK2000 após a restauração:



O TK2000


Manual Técnico
          Restauração? Exato, obviamente nem tudo são flores. Ao ligar o aparelho no televisor nenhuma tecla funcionava, fato comum nestes aparelhos após mais de 30 anos. A membrana do teclado é constituída de um filme plástico onde é aplicada uma tinta condutiva que forma um lado das trilhas da matriz. A outra parte é uma placa de baquelite. Portanto, conclui-se que a parte plástica, sendo flexível, fecha o contato na placa de baquelite informando ao CPU do computador qual tecla o usuário está pressionando.
          O maior problema na membrana do teclado do TK2000 não é o contato que se forma nas teclas mas sim onde ela é encaixada na placa mãe. Neste local, na tentativa de oferecer um melhor isolamento, a MICRODIGITAL colou uma espécie de fita "crepe" na extensão da membrana plástica que conecta na placa mãe. Com o tempo, o adesivo acabou por aderir à tinta condutiva de forma permanente, arrancando-a da membrana e causando o problema da falha no teclado.

Extensão da membrana do teclado onde se pode ver a fita "crepe" colada nas pontas. No meio também havia a fita adesiva ao qual se desmanchou na movimentação do teclado, levando consigo as preciosas trilhas de tinta condutiva.

Exibição da extensão do dano que a fita "crepe" causou às trilhas.

          Para resolver este problema substituí a membrana plástica por um cabo flat e soldei na placa mãe. Funcionou perfeitamente. Inicialmente eu queria refazer as trilhas que haviam sido arrancadas pela fita adesiva usando uma tinta condutiva, mas sem sucesso. Sei fazer a tinta  à base de grafite mas ela têm severas limitações. Esta tinta serve para pequenas fissuras não maiores que 0,5mm. Após esta medida, a resistência vai aumentando exponencialmente a cada milímetro tornando inviável o uso dela na correção das falhas existentes nesta membrana que chegavam a centímetros! Mesmo assim, tentei, mas não consegui. O TK não respondia quando as teclas eram pressionadas. O sinal não chegava à CPU devido à alta resistência causada pela tinta condutiva.
Tentativa de recuperação das trilhas na membrana do teclado com tinta condutiva.

Tentativa de recuperação das trilhas na membrana do teclado com tinta condutiva.




Como o método de usar tinta condutiva não havia funcionado, tive de usar um cabo que, estendia o conector da placa mãe até a parte da membrana do teclado que não havia sofrido dano. Este método eu me baseei observando o site do Alexandre Souza.  Abaixo segue algumas fotos da desmontagem do teclado:


Parte de baixo do teclado expondo a placa de baquelite. 


Repare que a Microdigital não economizou fita "Crepe" (rs)  




Limpando os contatos para melhor condutividade.


Repare no monte de fita "crepe" velha.

Eis aqui a membrana do TK2000. Repare nos contatos oxidados.




Detalhe da desmontagem do TK2000 para limpeza e restauração.

Detalhe da restauração da membrana do teclado. Sua extensão que conecta à placa mãe foi substituída por um cabo.



Detalhe do cabo conectado ao terminal da placa mãe. Preferi não retirar este terminal da placa mãe fixando sem solda, fio por fio deste cabo ao terminal da placa mãe. O motivo? Um dia eu explico.


Detalhe do cabo de 8 vias soldado à placa mãe. 
O resultado foi como o esperado. Todas as teclas funcionaram perfeitamente e o computador ganhou vida novamente com este reparo.




O TK2000