Recentemente meu tio Carlão (José Carlos Mariano) me agraciou com um presente ao qual sou-lhe grato eternamente; um TK2000. Na década de 80, os computadores pessoais eram peças raras, limitados a alguns poucos usuários, sendo sinônimo de status a quem tinha o domínio dessas máquinas. Meu tio havia comprado este computador naquela época e foi um "zumzumzum" na família toda. Não havia quem não comentasse o fato. Eu ficava imaginando como seria operar este maravilhoso e enigmático aparelho.
Os anos se passaram e durante este tempo, vi a informática desenvolver-se de forma assombrosa. Nos anos 80 os computadores de mesa reinavam absolutos e foi assim até o final da primeira década do século 21. Lembro-me que em 1992 no curso de informática que fiz na Microcamp, o professor daquela época, o Sr. Athos Abritta já anunciava as seguintes palavras: "Não se assustem quando verem os computadores do tamanho de relógios de pulso..."; A sala de aula, atônita, ouvia atentamente esta "profecia". Não demorou muito para que os computadores ficassem até menores que relógios de pulso.
Atualmente usamos computadores o tempo todo e nem nos damos conta. O aparelho celular é um dispositivo computacional completo, com sistema operacional, dispositivo de entrada, saída, acesso à internet e tudo que se pode imaginar e querer de um computador. Na verdade, atualmente desperdiçamos a capacidade computacional dos aparelhos fazendo, em algumas situações, mal uso de todo este poder e capacidade de armazenamento.
Na época do TK2000, criar um programa era uma verdadeira arte. O hardware era limitado, portanto a criação dos programas tinha de ser feita cuidadosamente para que não houvesse desperdício da pequena memória destes aparelhos e sempre atento para que as rotinas na programação fossem eficientes tirando proveito de toda a capacidade do aparelho. E foi por este exato motivo que sempre quis ter um aparelho deste. Programar com um hardware extremamente limitado e aplicar meus conhecimentos de Tecnólogo em Análise de Sistemas neste computador é algo desafiador. Mas amo desafios e sempre quero superá-los. Na faculdade somos provocados a construirmos programas que fazem o uso eficiente dos processadores e memória através da aplicação dos conceitos da Estrutura de Dados. Mas é algo conceitual que só se estuda para se ter uma base do que é isso, e o motivo é que o hardware atual é infinitamente poderoso então, certas rotinas ineficientes e o exagerado uso de memória acabam por ser tranquilamente tratados pela imensa capacidade computacional dos dispositivos atuais. Então, para não perder de vista o conceito da estrutura de dados e as boas práticas na programação de algoritmos, este TK2000, doado pelo meu Tio Carlão, veio em boa hora para agregar valor e conhecimento. Não se compara o BASIC com C! Sei disso, mas a beleza nisso tudo está na real capacidade do Analista de Sistemas em ser capaz de programar em qualquer plataforma, desde as mais antigas até as mais modernas. Então, o desafio foi aceito! Restauro o aparelho e agrego conhecimento em eletrônica, preservo o fator histórico (que para mim é muito importante) e ainda por cima exercito meus algoritmos e aplicações matemáticas que construo. Enfim, me sinto muito feliz por estar com este formidável computador antigo! Aqui vão algumas fotos do TK2000 após a restauração:
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O TK2000
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Manual Técnico |
Restauração? Exato, obviamente nem tudo são flores. Ao ligar o aparelho no televisor nenhuma tecla funcionava, fato comum nestes aparelhos após mais de 30 anos. A membrana do teclado é constituída de um filme plástico onde é aplicada uma tinta condutiva que forma um lado das trilhas da matriz. A outra parte é uma placa de baquelite. Portanto, conclui-se que a parte plástica, sendo flexível, fecha o contato na placa de baquelite informando ao CPU do computador qual tecla o usuário está pressionando.
O maior problema na membrana do teclado do TK2000 não é o contato que se forma nas teclas mas sim onde ela é encaixada na placa mãe. Neste local, na tentativa de oferecer um melhor isolamento, a MICRODIGITAL colou uma espécie de fita "crepe" na extensão da membrana plástica que conecta na placa mãe. Com o tempo, o adesivo acabou por aderir à tinta condutiva de forma permanente, arrancando-a da membrana e causando o problema da falha no teclado.
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Extensão da membrana do teclado onde se pode ver a fita "crepe" colada nas pontas. No meio também havia a fita adesiva ao qual se desmanchou na movimentação do teclado, levando consigo as preciosas trilhas de tinta condutiva. |
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Exibição da extensão do dano que a fita "crepe" causou às trilhas. |
Para resolver este problema substituí a membrana plástica por um cabo flat e soldei na placa mãe. Funcionou perfeitamente. Inicialmente eu queria refazer as trilhas que haviam sido arrancadas pela fita adesiva usando uma tinta condutiva, mas sem sucesso. Sei fazer a tinta à base de grafite mas ela têm severas limitações. Esta tinta serve para pequenas fissuras não maiores que 0,5mm. Após esta medida, a resistência vai aumentando exponencialmente a cada milímetro tornando inviável o uso dela na correção das falhas existentes nesta membrana que chegavam a centímetros! Mesmo assim, tentei, mas não consegui. O TK não respondia quando as teclas eram pressionadas. O sinal não chegava à CPU devido à alta resistência causada pela tinta condutiva.
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Tentativa de recuperação das trilhas na membrana do teclado com tinta condutiva. |
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Tentativa de recuperação das trilhas na membrana do teclado com tinta condutiva. |
Como o método de usar tinta condutiva não havia funcionado, tive de usar um cabo que, estendia o conector da placa mãe até a parte da membrana do teclado que não havia sofrido dano. Este método eu me baseei observando o
site do Alexandre Souza. Abaixo segue algumas fotos da desmontagem do teclado:
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Parte de baixo do teclado expondo a placa de baquelite. |
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Repare que a Microdigital não economizou fita "Crepe" (rs) |
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Limpando os contatos para melhor condutividade. |
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Repare no monte de fita "crepe" velha. |
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Eis aqui a membrana do TK2000. Repare nos contatos oxidados. |
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Detalhe da desmontagem do TK2000 para limpeza e restauração. |
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Detalhe da restauração da membrana do teclado. Sua extensão que conecta à placa mãe foi substituída por um cabo. |
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Detalhe do cabo conectado ao terminal da placa mãe. Preferi não retirar este terminal da placa mãe fixando sem solda, fio por fio deste cabo ao terminal da placa mãe. O motivo? Um dia eu explico. |
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Detalhe do cabo de 8 vias soldado à placa mãe. |
O resultado foi como o esperado. Todas as teclas funcionaram perfeitamente e o computador ganhou vida novamente com este reparo.
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O TK2000
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